Cantinho do Conhecimento

27-03-2011 20:44

BREVE DESCRIÇÃO DO PROJETO:

A ONG Anjo Amigo tem uma história de trabalho entre jovens do Bairro da Liberdade. O principal interesse dos fundadores da organização é que os adolescentes tenham uma opção diferenciada do que vivenciam na comunidade onde, infelizmente, impera a violência e a banalização do sexo e sexualidade. Apesar do bairro da Liberdade ser um importante gueto de cultura negra na Bahia, rodeado de grupos ‘afro’, e sendo considerado o bairro mais negro da cidade, sofre com a criminalidade e as conseqüências da construção histórica do negro no estado e no país.

A população da Liberdade alcança o número de 172.303 habitantes, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde. Destes 83.528 são jovens, ou seja, 48% do total dessa população. Historicamente é considerado um bairro negro, não só pela existência dos movimentos ali presentes, mas como também pelas estatísticas que apontam para essa realidade.

O Ministério da Saúde vem trabalhado com políticas públicas específicas para a população jovem e negra pela constatação da vulnerabilidade aumentada nesse grupo. Fatores que aumentam a vulnerabilidade ás DST/AIDS como violência de gênero na população feminina; imaturidade biopsicossocial e não reconhecimento dos direitos dos adolescentes e jovens; discriminação étnica racial; violência estrutural e pobreza estão em pauta nas agendas de discussões para o enfrentamento da situação.

Diante deste contexto, é que este projeto pretende atuar, com enfoque na população feminina que necessita que suas especificidades sejam consideradas para a construção de ações para prevenção e promoção à saúde.

 

A constatação de que, em escala mundial, a disseminação do HIV ocorre, principalmente, através do contato sexual aponta para a compreensão de que a aids está estreitamente ligada à sexualidade e ao comportamento sexual, sendo, portanto, considerada como uma doença sexualmente transmissível – DST, mesmo apresentando outras modalidades de transmissão, como a sangüínea e a vertical.

O avanço das DST/AIDS entre as mulheres revela a situação de desigualdade de poder vivida por elas quando comparadas à situação de vida dos homens, por exemplo, no exercício de sua sexualidade ou, até mesmo, a desigualdade existente entre as próprias mulheres: quando negras mais pobres e com menor escolaridade, maior a vulnerabilidade à epidemia.

A falta de controle e de medidas preventivas para a população feminina são evidenciadas através da disseminação da aids nesse  grupo específico, pois há um aumento progressivo do número de municípios brasileiros com pelo menos um caso de AIDS em mulheres, o que indica que a interiorização vem sendo acompanhada por um processo de feminização da epidemia (Brasil, 2007).

 

Quando se discute a situação das mulheres, outro dado de grande relevância diz respeito as desigualdades estruturais existentes na sociedade brasileira refletidas, dentre outras coisas, na assimetria de poder entre homens e mulheres tem sido alvo de discussão entre os pesquisadores como um dos fatores responsáveis pela vulnerabilidade feminina frente à AIDS.

Neste sentido, a ideologia de gênero, ou seja, a forma hierarquizada e diferenciada como a identidade da mulher e do homem é construída em contextos socioculturais específicos, figura como um obstáculo à implementação, e conseqüentemente adoção de práticas sexuais mais seguras, devendo ser considerada como referência na pauta de discussão dos fatores que possibilitam a compreensão da disseminação do HIV entre mulheres.

Essa constatação estimulou a necessidade de implementação de estratégias de prevenção à aids que ampliasse as opções de proteção feminina e que fossem controladas pelas mulheres, a exemplo do preservativo feminino.

Acreditamos que além da disponibilização de insumos é necessária uma mudança de comportamento que só pode se materializar com a Educação em Saúde.

Essa é a proposta deste projeto trabalhar na comunidade da Liberdade na formação e capacitação de agentes multiplicadoras da informação para o enfrentamento das múltiplas vulnerabilidades que contribuem para que as mulheres estejam mais suscetíveis às situações que provocam adoecimento.

 

O principal objetivo deste projeto é capacitar 180 mulheres adultas e jovens para serem agentes multiplicadoras de informação na área de saúde com enfoque na sexualidade, reprodução e prevenção às DST/AIDS. Além disso, pretendemos implementar na ONG Anjo Amigo a incorporação da perspectiva de gênero, montando uma rede no bairro da Liberdade, para a produção de mudanças nas políticas de saúde.

De forma indireta o projeto pretende alcançar 1040 pessoas com a mobilização comunitária.

Com a parceria com o Centro Universitário, pretendemos garantir apoio educacional para a realização das oficinas de capacitação. Entendemos também que se trata de um importante espaço acadêmico de construção do conhecimento e laboratório para os conteúdos apreendidos entre os muros institucionais.

A coordenadora deste projeto é Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia, professora da referida instituição de nível superior e funcionária estatutária da Secretaria Municipal de Saúde, ativa em um Serviço Especializado de DST/AIDS.

Serão agregados ainda, alunos da graduação de Enfermagem com experiência em intervenções comunitárias, para o apoio nas atividades de capacitação.

Vale ressaltar, que se trata de um projeto da ONG Anjo Amigo, que por sua vez, faz questão de manter um suporte para suas atividades com a construção de parcerias, para que fique comprovado a seriedade de suas ações, bem como o seu comprometimento com a qualidade do que é oferecido a comunidade onde atua.

BRASIL. Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Palno Integrado de enfrentamento da feminização da epidemia da Aids e outras DST. Brasília. MS: 2007.

 

Metodologia do Projeto 

 

A metodologia deste Projeto de intervenção será constituída a partir de uma perspectiva antropológica, priorizando os atores inseridos em relações sociais em um contexto cultural. Nesse sentido, o trabalho de educação em saúde deverá ser culturalmente apropriado, o que implica mantê-lo a partir de um conhecimento da realidade sociocultural na qual vivem as mulheres.

A proposta pedagógica deste projeto parte do pressuposto de que as mulheres devem participar ativamente da produção do conhecimento trazendo para as oficinas a sua experiência e o seu saber sobre os temas que serão abordados.

As oficinas constituir-se-ão como espaços de sensibilização, interlocução e produção de conhecimento, onde as temáticas em discussão poderão ser repensadas e/ou relativizadas pelas mulheres.   

Como resultados finais deste projeto pretenderam alcançar mulheres em situação de vulnerabilidade sensibilizadas e capacitadas para a formação de uma rede de prevenção das DST/AIDS e promoção da saúde. Além disso, entendemos que podemos contribuir para a redução de fatores que aumentam a vulnerabilidade dessas mulheres, pois cremos que uma resposta comunitária de mobilização contribui para a construção de políticas públicas e do controle social.

 

 

ATIVIDADE

 

Reunião com a comunidade para a apresentação do Projeto.

Seleção dos estudantes de enfermagem para realização das oficinas

Apresentação às parcerias do Projeto, bem como solicitação do suporte de cada uma. (Centro Universitário Jorge Amado, Serviço Municipal de Assistência Especializada em DST/Aids)

Realização das oficinas educativas/reflexivas

Discussão das questões de gênero que norteiam a vida das mulheres e influenciam na saúde.

Ampliação das noções e práticas de auto-cuidado o conhecimento do corpo e anatomia feminina, enfatizando a responsabilidade com a saúde. 

Estimular a erotização do uso do preservativo para o estímulo da utilização de práticas preventivas.

Identificação de lideranças comunitárias femininas.

Treinamento para formação de multiplicadores 

Realização de contato face a face com a população alvo.

Orientações sobre práticas preventivas relacionadas às dst/aids e cuidados com a saúde.

Encaminhamentos das mulheres para serviços de referencia que dão suporte a ONG Anjo Amigo para distribuição de material informativo, preservativos e aconselhamento para testagem de DSTs.

Registro diário de dados quantitativos (mapas de campo), e qualitativos (caderno de campo).

Supervisão semanal dos agentes multiplicadores de informação.  

Supervisão mensal com toda equipe

Elaboração do relatório final