juíza baiana Luislinda Valois

juíza baiana Luislinda Valois

Primeira juíza negra ministrará na Esmal palestra contra o racismo

 
 
juíza baiana Luislinda Valoi
  • A trajetória de vida da juíza baiana Luislinda Valois, primeira mulher negra a exercer o cargo de magistrada e proferir uma sentença contra o racismo no Brasil, será destaque da palestra “A Mulher Negra nos Três Poderes da República”. O evento, que faz parte da Semana Esmal da Consciência Negra, será realizado na próxima quarta-feira (17), às 19h na Escola da Magistratura.
A magistrada baiana irá falar para um público de estudantes e convidados, destacando conquistas e avanços das mulheres afrodescendentes no país. Após a palestra o público poderá conferir o show da cantora alagoana Roberta Aureliano.
 
 
Sobre o Prêmio Claudia 2010 
 
 
Principal premiação voltada para a mulher brasileira, o Prêmio Claudia 2010 foi entregue na última sexta-feira (05), na Sala São Paulo. A cerimônia homenageou mulheres que, nas mais diversas áreas, fizeram a diferença tentando construir um país melhor. Luislinda Valois foi vencedora na categoria Políticas Públicas.
Quinze finalistas, divididas em cinco categorias (Ciências, Negócios, Trabalho Social, Políticas Públicas e Cultura) destacaram-se por suas histórias únicas de superação e pelo desejo em comum de transformar a realidade de suas comunidades.
 
 
Primeira juíza negra do Brasil 
 
 
Aos 9 anos, a menina negra, de origem humilde, ouviu de um professor: “Se você não tem dinheiro para comprar o material escolar, pare de estudar e vá cozinhar feijoada na casa de branco”. Luislinda Valois deixou a sala de aula chorando, envergonhada. Valente, tomou coragem e retornou falando: “Não vou parar. Vou estudar para ser juíza e prender o senhor”.
O trauma infantil despertou o furor, que fez dessa soteropolitana, de 68 anos, uma profissional ávida por justiça. Primeira juíza negra e primeira profissional da área a proferir uma sentença contra o racismo no Brasil, Luislinda trabalhou no interior baiano até ser promovida, em 1993, para Salvador. Combater o racismo dentro e fora da magistratura e tornar a Justiça acessível a todos são seus desafios constantes.
Ela reativou dezenas de Juizados Especiais em municípios da Bahia e criou e instalou a Justiça Itinerante, sala de audiência dentro de um ônibus que atende os bairros carentes de Salvador e Feira de Santana, e o Juizado Itinerante Marítimo, que conduz profissionais até as ilhas da Bahia. Coordenou ainda o Balcão de Justiça e Cidadania e levou a lei às comunidades quilombolas e aos índios. Nas horas livres, Luislinda dá palestras em escolas públicas para que os jovens conheçam seus direitos e deveres.
O Programa Justiça, Escola e Cidadania, idealizado por ela, atingiu mais de 5 mil estudantes. Sua militância também se estende à escrita: publicou o livro O Negro no Século XXI, uma reflexão sobre a participação dos afrodescendentes na sociedade atual.
 
 
 
por Ascom/TJ-AL
 
 

Primeira juíza negra do país lança livro sobre o negro no século XXI

 

O tom impessoal do livro O negro no século XXI é apenas uma opção estratégica. Escrito pela juíza baiana Luislinda Dias de Valois Santos, 67, reúne artigos sobre temas variados como cultura, educação, políticas públicas, justiça social e religião. Todos mediados pela experiência negra no país pós-escravidão. 
 
 
Poderia ser a história da própria Luislinda, que teve avô escravo, pai motorneiro de bonde, cuidou dos irmãos menores quando a mãe morreu precocemente e só se formou advogada aos 39 anos. E era essa mesmo a intenção, quando ela começou a escrevê- lo. 
 
 
Seria um desabafo diante de mais uma situação difícil: dois processos contra ela , já arquivados por falta de provas, no Tribunal de Justiça da Bahia. Isto foi no início desta década. “Não fiz pesquisas. Tudo que falo é por conhecimento de causa”, afirma Luislinda, que lança o trabalho quarta- feira, às 19h30, na Saraiva Megastore (Salvador Shopping).

Luislinda foi a primeira negra brasileira a entrar para a magistraturaFoto: Divulgação/Ricardo Prado 
Sobre a escola pública, por exemplo, fala com intimidade. Foi no Colégio Duque de Caxias, na Liberdade, que ouviu a sentença de um ex-professor, irritado por causa de seu pobre material escolar: “Se não pode comprar é melhor parar de estudar e ir cozinhar feijoada na casa de branca”.
E se o tema é religião, recorda, foi testemunha das idas e voltas da tia Helena Grande a uma delegacia para pegar autorização para o funcionamento do terreiro de candomblé, no bairro de Pirajá. 
 
 
Mas Luislinda resolveu tirar o foco de si mesma,e tratar de temas caros à maioria. Como as cotas raciais para ingresso nas universidades públicas, que defende com veemência. “O sistema de cotas aproxima pessoas que vivem de forma desigual”, defende a magistrada, que integrou a equipe que implantou a medida na Uneb. 
 
 
Ela também defende a ampliação das cotas para setores como o serviço público. “Precisamos ter mais médicos, engenheiros e juízes negros. É preciso oportunizar. A competência e a inteligência não são privilégios de uma única raça”, discursa. 
 
 
Guerreira

  
Mãe do promotor de justiça Luis Fausto - que atua em Sergipe -, e avó de duas meninas, Luislinda diz que sempre falou para eles que ser negro é maravilhoso. Mas também que não era para deixar ninguém tomar conta deles. “Sou muito séria nas minhas posições. Não posso vacilar, afinal sou negra, pobre, vim da periferia, sou divorciada e ainda sou rastafári”, brinca. 
 
 
Primeira juíza negra brasileira, Luislinda também foi a primeira a dar uma sentença tendo como base a Lei do Racismo. Foi a ação movida por Aila Maria de Jesus, que se recusou a abrir a bolsa num supermercado, depois de ter sido acusada injustamente de ter roubado um frango e um sabonete. 
 
 
A trajetória da magistrada impressionou a jornalista paulista Lina de Albuquerque, autora do livro Recomeços, que reúne histórias de pessoas que foram capazes de reconstruir a vida diante de uma situação adversa. Depois de fazer um pequeno perfil da baiana para a publicação, Lina está escrevendo a biografia dela, que deve ser lançada até o final do ano.

Na época em que participou do Miss Mulata (1966)
Foto: Arquivo Pessoal 
Há ainda uma articulação para um documentário. “Vamos mostrar como é difícil ser negro na Bahia”, afirma Luislinda, que atuou durante seis anos em Curitiba e diz que lá foi mais bem-aceita.
 
 
Atualmente, ela está em licença- prêmio da função de titular do juizado da Faculdade Jorge Amado. E ainda hoje, conta, se depara com situações como a da advogada que estava em sua cadeira e não acreditava que estava diante da juíza. “Tenho sempre que me impor”, reitera. 
 
 
Entre os planos para o futuro está o de ser nomeada desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia. “Sou a sétima juíza mais antiga e tenho competência para isso”, provoca a filha de Iansã, que joga búzios, lê cartas e frequenta o terreiro Dembaukueman, da ialorixá mãe Bebé, no Buraco da Gia (Vasco da Gama). 
 
 
“Adoro vermelho. É a cor da dona da minha cabeça”, diz Luislinda, referindo-se à orixá guerreira. A cor ela traz até nos cabelos. “Acompanho a evolução”, diverte-se a juíza, que já usou black power e concorreu a Miss Mulata em 1966. Ficou com o título de Simpatia.